' Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara ' José Saramago

terça-feira, 21 de junho de 2011

Eu não sei perder alguem que está longe.
Deveria ser proibido. Deveria na verdade não existir perdas.
Eu gostaria mesmo poder acreditar que um dia eu vou encontar, lá no céu, todo mundo que eu 
perdi, ou que vou perder.
mas é que em dias de perdas, parece que o céu tá tão distante, e que ele é tão egoísta.
Por vezes injusto, por vezes e quase sempre, uma imensidão azul, que nos faz pensar
porque.. porque dói tanto, e porque é tão dificil crer.
Hoje eu soube que perdi. perdi meu nego, meu preto, meu velho.
Perdi meu chato, meu insuportável, meu irritante.
Perdi meu protetor, meu guardião.
Perdi meu cachorro, que ficou comigo, por 13 anos completos.
Gostaria mesmo de voltar a escrever textos de amor, ou até mesmo de aventura.
E não mais de perdas. mas parece que o céu tá querendo tudo pra si.
Foi-se embora o meu esquilo, e agora o meu cachorro.
Hoje eu soube que perdi meu cachorro. Eu soube, o que não quer dizer que acredito.
Não acredito porque não vi. E por isso digo que deveria ser proibido.
Soube que ele tinha ido passear, e que andova tranquilamente na calçada.
Sem coleira, olhou pra minha mãe, como se olhasse dizendo, eu tô indo, mas tô olhando por você.
eu tô indo, mas tudo vai ficar bem. Eu tô indo. E foi. Olhou pro carro e atravessou.
Minha mãe disse que ele foi bonitinho. que caiu. E ficou caido. Como se dormisse.
Ficou caido esperando a despedida.
E eu não estava lá.
Mas vi. Vi na minha cabeça um filme, de tudo o que aconteceu hoje,
e de tudo o que aconteceu desde o momento em que ele veio pra casa.
Veio magro. E veio preto. Bem preto.
E cuidou de mim. Cuidou sem deixar ninguem entrar no quarto.
Cuidou sem deixar ninguem me acordar.
Cuidou de mim, sem pedir nada em troca.
me estranhou inúmeras vezes também, porque ele sabia dividir muito bem seus amores.
Primeiro minha mãe, depois eu. E assim foi, até hoje.
Não me importava com essa divisão não. Quis mesmo que minha mãe ficasse com mais amor,
porque aí juntaria o meu com o dele, e aja amor pra Conceição.
O problema é que eu não sei lidar com perdas.
Eu não estou chorando. nem depois de ouvir minha mãe soluçar no telefone.
Nem depois de receber mensagem pedindo flores, velas e rezas.
Eu não to chorando, mesmo sabendo de que ele já foi enterrado e que eu não vou poder olhar pra ele e me despedir.
Mas eu vou chorar.Vou chorar ao lembrar que eu vou acordar de manhã e não vou ver aquela 
patinha em cima da cara dizendo: apaga a luz, são 5 horas da manhã.
Vou chorar quando eu lembrar de que eu saia de casa e dizia: fica quetinho que eu ja volto. E não servia de nada, porque chegava em casa aos uivos de saudade.
Vou chorar, lembrando das descidas de escada com 3 patas.
Eu vou chorar, mas vou sorrir Ritchie. Eu vou chorar como agora, mas vou sorrir em seguida, sabendo que você está em um lugar melhor, olhando por todos. Eu vou sorrir lembrando de todas suas mordidas.
Talvez sua mordida significasse algo pra mim. Como do tipo, para de sair a noite e vai estudar. Ou, me leva pra passear mais vezes.
Não vou chorar não. Não muito, eu prometo. Vou me gargalhar, vou guardar suas bolinhas, sua roupinha, sua coleira azul quadriculada. Vou me gargalhar, porque sei que aí onde você está, você quer me ver sorrindo.
Amanhã eu vou olhar pro céu azul e tentar imaginar que ele está bem juntinho de mim, pro meu coração não ficar não apertado. 
Eu vou me lembrar. Lembrar de você como um lord. Um velhinho rabungento, que ficava na frente da TV todo encolhido, quase que pedindo um whisky e um charuto.

Peço para que todos que lembrem dele, ou que possuem histórias pra contar sobre ele, ou com ele, que rezem. Rezem pro céu dos cachorrinhos, pra que diminua a saudade, e que eu não sinta meu coração tão apertado.

Eu te amo meu velhinho, e eu não queria que você fosse assim, embora depressa.
Esperava que você tomasse chicaras de chá comigo bem velhinha, fazendo tricõ, 
e que um dia de manhã, você realmente fosse embora, mas depois de um sono 
bem vindo.
Eu te amo meu velhinho, e eu espero que Deus esteja contigo agora, vendo essa sua barba branca e esses seus olhinhos azuis de velhice e dizendo: ow meu preto, para de morder minha canela.
Que você Ritchie, olhe por mim, e por todos que passaram os 13 anos de sua vida contigo, e conforte os nossos corações.
Sentiremos saudade, e nosso amor é infinito e imenso. Como seu coração.

Meu preto, vai com Deus. A gente se encontra, nesse céu azul.



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