Queria morrer.
Morrer por morrer, de morte morrida.
Morrer de raiva, e de mãos atadas.
Ah como o odiava.
Odiava quando a chamava de linda.
Não lembrava da voz dele, por isso talvez toda a noite deparava-se com o telefone na mão, discando seu número.
Nunca de fato ligou.
Talvez uma, ou duas vezes, por puro impulso.
É engraçado como a mente brinca com a gente.
Ligava e sem querer dizia o que não mais poderia.
Afinal de contas, talvez ele não a quisesse mais.
Pelo menos não daquele jeito.
Não sabia.
Debruçada na janela, olhando todo o mar azul.
Soluçava linda: a paisagem, a brisa.
Ela não. Nunca foi, e se foi não havia descoberto ainda.
Não queria.
De todas as palavras, a que menos gostava de escutar, com toda a certeza era linda.
A incomodava de tal maneira que parava o mundo e todos os demais sons para dizer que não.
Batia o pé, virava a cara. Birrenta.
Mas da boca dele sempre saia o linda que percorria teu corpo inteiro, e a dentro ia num palpitar querer de crença.
Era o linda mais atormentador de todos os outros.
Porque persistia, e não desistente, pronunciava inúmeras vezes ao longo do dia.
Não contente, e não o bastante seguia o linda com frases de poema e prosa, feitos por ele mesmo em segundos.
Teimava em dizer que não tinha o dom, e que este era somente meu.
Mas escrevia frases soltas em questão de piscar, de flor nascendo, vento a balançar cabelos.
"És linda, e digo mais."
Ah sim, sempre dizia. Muitas vezes mais, e bem mais.
Dizia ainda que eu não mudaria jamais.
Seria eu, linda até que seu corpo estivesse a metros da terra, lentamente se desfazendo como o nada.
Imaginava talvez o céu mudando de cor, e eu ali. Linda.
Queria até que estrelas mergulhassem no mar.
Pensei que ele, por todos os devaneios ditos, fosse louco.
Olhei então pela janela, e foi ali que vi, ainda debruçada, estrelas entregando-se ao mar, lá no fim do horizonte.
Em mais uma noite em que distante me chamou de linda, sem que eu pudesse acreditar.
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